13 de abr. de 2010

Sermão da Montanha-Introdução

"Bem-Aventurados os Pobres Pelo Espírito!"


Poucas palavras do Evangelho sofreram, através dos séculos, tão grande adulteração e ludíbrio tamanho como estes. Escritores e oradores de fama mundial, e até ministros do Evangelho, aderem à blasfêmia de que Jesus tenha proclamado bem-aventurados e cidadãos do reino dos céus os "pobres de espírito", isto é, os apoucados de inteligência, os idiotas e imbecis, os mentalmente medíocres.

Se assim fosse, o próprio Jesus, riquíssimo de espírito, não faria parte dos bem-aventurados e possuidores do reino dos céus.

Não se sabe o que mais estranhar nessa in¬terpretação, que se tornou proverbial, se a hilariante ignorância dos seus autores, se a revoltante arrogância dos profanadores de uma das mais sublimes mensagens de Jesus Cristo.

Nem no texto grego do primeiro século, nem na tradução latina da Vulgata se encontre o tópico "pobres de espírito", mas sim "pobres pelo espírito", ou seja, "pobres segundo o espírito" (em grego: tô pneu mati, no terceiro caso, dativo, não no segundo, genitivo; em latim: spiritu, no sexto caso, ablativo não no genitivo). Na tradução "de espírito" entende-se o genitivo, como se disséssemos: "fulano é pobre de saúde, de inteligência", isto é, falta-lhe saúde, inteligência. De maneira que nem a gramática nem o espírito geral do Nazareno permitem a tradução "pobres de espírito", que, no entanto, se tornou abuso quase universal.

Jesus proclama bem-aventurados, cidadãos do Reino dos Céus, agora e aqui mesmo, todos aqueles que são pobres, ou desapegados, dos bens terrenos, não pela força compulsória das circunstâncias externas e fortuitas, mas sim pela livre e espontânea escolha espiritual; os que, podendo possuir bens materiais, resolveram livremente despossuir-se deles, por amor aos bens espirituais, fiéis ao Espírito de Cristo: "Não acumuleis para vós bens na terra — mas acumulai bens nos céus".

Essa libertação da escravidão material pela força espiritual supõe uma grande experiência  rica. Ninguém abandona algo que ele considera valioso sem que encontre algo mais valioso. Quem não encontrou o "tesouro oculto" e a "pérola preciosa" do Reino dos Céus não pode abandonar os pseudotesouros e as pérolas falsas dos bens da terra. É da íntima psicologia humana que cada um retenha aquilo que ele julga mais valioso.

O verdadeiro abandono, porém, não consiste em uma fuga ou deserção externa, mas sim em uma libertação interna. Pode o milionário possuir externamente os seus milhões, e estar internamente liberto deles — e pode, também, o mendigo não possuir bens materiais e, no entanto, viver escravizado pelo desejo de os possuir, e, neste caso, é ele escravo daquilo que não possui, assim como o milionário pode ser livre daquilo que possui. Este possui sem ser possuído — aquele é possuído pelo que não possui.

O que decide não é possuir ou não possuir externamente — o principal é saber possuir ou não possuir. Ser rico ou ser pobre são coisas que nos acontecem, de fora — mas a arte de saber ser rico ou de ser pobre, é algo que nós produzimos, de dentro. O que nos faz bons ou maus não é aquilo que nos acontece, mas sim o que nós mesmos fazemos e somos.

A verdadeira liberdade, ou seu contrário, consiste numa atitude do sujeito, e não em simples fatos dos objetos.

‘O que de fora entra no homem não torna o homem impuro — mas o que de dentro sai do homem e nasce em seu coração, isto sim torna o homem impuro" — ou também, puro, conforme a índole desse elemento interno.

Ser rico não é pecado — ser pobre não é virtude.

Virtude ou pecado é saber ou não saber ser rico ou pobre.

Naturalmente, quem é incapaz de se libertar internamente do apego aos bens materiais sem os abandonar, também, externamente, esse deve ter a coragem e sinceridade consigo mesmo de se despossuir deles, também, no plano objetivo, a fim de conseguir a "pobreza pelo espírito", isto é, a libertação interior. Aquele jovem rico do Evangelho, ao que parece, era incapaz de possuir sem ser possuído; por isso, o  Mestre lhe recomendou que se despossuísse de tudo a fim de não ser possuído de nada — mas ele falhou. E por isso se retirou, triste e pesaroso, "porque era possuidor de muitos bens". Possuidor? não — era possuído de muitos bens.

Entre possuidor e possuído há, verbalmente, apenas a diferença de uma letra, o "r" — mas esse"r" fez uma diferença enorme, porque e o r da redenção. O possuído é escravo — o possuidor não possuído é remido da escravidão. Quem não sabe possuir sem ser possuído, fez bem em se despossuirde tudo. Mas quem sabe possuir sem ser possuído pode possuir.

Não raro, o ato externo do despossuimento écondição preliminar necessária para a libertação interna.

Quem fez dos bens materiais um fim, em vez de um meio, pratica idolatria, porque "ninguém pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro". Quem serve é servo, escravo, inferior. Quem serve ao dinheiro proclama o dinheiro seu senhor e soberano e a si mesmo servo e súdito. Mas quem obriga o dinheiro a servir-lhe é senhor do mesmo, porque usa o dinheiro como meio para algum fim superiore nobre como ajudar o próximo.

Infelizmente nesse evangelho dos dias atuais os Grandes Lideres do Evangelho serve ao dinheiro , é escravo dele o usa com fins egoístas e de interesses pessoais ao invés de canaliza-lo para o fim de ajudar outras vidas.Quem serve a Deus "em espírito e verdade" pode ser servido pelo dinheiro e por outros bens materiais.

Bem-aventurados os pobres pelo espírito, os que, pela força do espírito, se emanciparam da escravidão da matéria. Deles é o Reino dos Céus, agora, aqui, e para sempre e por toda a parte, porque, sendo que o Reino dos Céus está dentro do homem, esse homem leva consigo o Reino da sua Felicidade aonde quer que vá.

Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior;
 nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós.Lucas 17:20,21

O nosso pequeno ego humano é muito fraco, e necessita de ser escorado por muitos bens materiais para se sentir um pouco mais forte e seguro mas o nosso Eu Divino é tão forte que pode dispensar essas escoras e muletas externas e sentir-se perfeitamente seguro pela força interna do Espírito.

Todo o problema está em saber ultrapassar a fraqueza e insegurança do ego e entrar na força e segurança do Espírito...

Bem-aventurado esse pobre do EGO — e esse rico do Espírito!...

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3 comentários:

Eu tinha muita duvida sobre o "pobre de espírito",sera pobreza física, intelectual ou um estado de espírito? Com esta abordagem exegética ficou claro. Muito bom mesmo.

O Blogospellogia discute alguns paradgmas pertinente a Fé e buscar imparcialmente e meticulosamente atraves das escrituras sagradas se aproximar da Verdade de Cristo e entender e fazer entender a força de seus ensinamentos.

Obrigado Rverendo estamos esperando um novo texto do Sr!

Este comentário foi removido pelo autor.

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